quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

"O Banqueiro dos Pobres"

Agora vamos falar um pouco de livros.... durante o mês de outubro e novembro li um livro chamado "O Banqueiro dos Pobres", de Muhammad Yunus e Alan Jolis, que fala sobre como a visão de uma única pessoa, validada pelo esforço coletivo, pode mudar a vida das pessoas de baixa renda.

O livro é de leitura obrigatória para os alunos do 6º período de Administração e nós, professores, devemos cobrá-lo de alguma maneira deles. Resolvi fazer uma questão na prova, vinculada aos temas pertinentes a minha disciplina.

O livro é realmente interessante e real, retrata uma vida diferente da nossa aqui, porém com as mesmas mazelas e tristezas.

Segue abaixo texto de Paulo Cunha sobre o livro.
Retirado do site planetasustentavel.abril.com.br/noticia/estante/estante_264059.shtml.


O Banqueiro dos pobres

Confiando nos mais pobres, o indiano Muhammad Yunus mostra como é possível lucrar e ajudar na distribuição de renda

Bangladesh é um país de 120 milhões de habitantes que está entre os mais pobres do mundo. Quarenta por cento de seu povo vive na mais absoluta miséria. O resto se aguenta. Os endinheirados, donos do poder, constituem uma minoria ridícula em termos numéricos. A cada década algum infortúnio de enormes proporções - inundação, ciclone ou terremoto - deixa milhões de desabrigados. Porém, as catástrofes naturais que assolam este pequeno país asiático não são nada perto da fome que fustiga seus habitantes. Por causa da desnutrição, a média de peso e altura da população está diminuindo. Boa parte das crianças não chega à idade adulta. Além disso, um número assustador de pessoas vaga pelas ruas todos os dias em busca de comida e de um teto para passar a noite. Em Bangladesh, não se vive, sobrevive-se.

Foi a partir desse cenário desolador que o economista Muhammad Yunus teve uma idéia não apenas brilhante, mas revolucionária. Em 1974, logo após a terrível estiagem que se abateu sobre o país, Yunus era o chefe do departamento de economia na Universidade de Chittagong, um pequeno distrito no sudeste do país. Em suas aulas, ele ensinava as teorias que se propunham a resolver os grandes problemas da humanidade. Falava-se em milhões de dólares como se fossem nada. Fora do campus, a realidade era outra, bem mais cruel. Era impossível não ver as hordas de famintos, que estavam por toda parte. O que separava essas pessoas da morte era apenas um punhado de comida. Yunus passou a ficar incomodado com a distância entre o conteúdo de suas aulas e a vida do lado de fora. "Comecei a achar que minhas aulas eram uma sala de cinema onde podíamos relaxar, tranqüilizados pela vitória certa do herói. (...) Mas a partir do momento que saía da sala de aula me confrontava com o mundo real. Lá os heróis eram moídos de pancadas, selvagemente pisoteados", conta no livro. Então, tomou, como ele próprio admite, a decisão mais importante de sua vida. Largou a faculdade e foi descobrir o que estava acontecendo com aquelas pessoas. Yunus queria compreender a realidade do pobre, entender a economia da vida real. "O banqueiro dos pobres" escrito por ele (com a ajuda de Alan Jolis), em 1997, é a história dessa decisão e de tudo o mais que ocorreu - não só em Bangladesh, mas em todo o mundo - por conta dela. A empreitada valeu-lhe o Prêmio Nobel da Paz.

Yunus começou seu trabalho pela pequena aldeia de Jobra, que ficava perto da universidade. Aproximando-se das famílias, começou a perceber como funcionava a economia doméstica naqueles lares e chegou a uma triste constatação: a de que cada trabalhador ganhava no final de uma longa e extenuante jornada, em média, o equivalente a dois centavos de dólar. O grosso da produção ficava todo nas mãos dos intermediários, que obviamente pagavam muito menos do que o valor de mercado. Era exatamente esse sistema de produção que estava, havia décadas, gerando a pobreza de uma população quase inteira. A diferença entre viver decentemente e morrer de fome era dois cents. Yunus, então, decidiu emprestar aos moradores da aldeia o valor que precisavam para não depender mais dos intermediários. Não seriam cobrados juros e eles poderiam pagar quando pudessem. Estava assim lançada a idéia que aos poucos foi crescendo e se transformou no Grameen, o primeiro banco da história criado para os pobres. A instituição que, há três décadas, vem concedendo microcréditos a pequenos produtores e comerciantes como uma estratégia vitoriosa para combater a pobreza.

O que se sucedeu a partir daí é a história de uma transformação, muito bem narrada nas páginas de "O banqueiro dos pobres". O Grameen é um banco completamente diferente dos demais - ele é destinado aos deserdados da sociedade, àqueles que, à primeira vista, não oferecem nenhuma garantia para pagar os empréstimos concedidos e que, por isso, são sempre rejeitados pelos bancos comuns. Yunus constatou que, por mais difícil que seja a situação dos financiados, os empréstimos são sempre pagos, ainda que leve algum tempo. O sucesso do Grameen foi tão grande que colocou por terra os argumentos dos economistas do mundo todo, que não davam nada ao projeto. Os números não deixam dúvidas: de um punhado de dólares emprestados a 42 pessoas da aldeia de Jobra em 1976 até os bilhões de dólares concedidos a 100 milhões de famílias em 2005, com a ajuda do Banco Mundial, foi um longo caminho percorrido. O grande diferencial do Grameen é que ele é baseado em princípios humanistas - não apenas econômicos. Sua ação e seus valores não vêem os pobres como sobra da sociedade, mas como seres humanos que merecem alcançar a cidadania, a vida digna. "Nós acreditamos que a pobreza não tem lugar numa sociedade civilizada, e sim nos museus", afirma Yunus a certa altura do livro, com a certeza de quem sabe o que está dizendo.