quinta-feira, 4 de março de 2010

Curitiba para os Amigos

Recebi este texto agora cedo por email e achei ótimo. Não encontrei na net o autor, se alguém souber, por favor me avise para dar os créditos.
E quem disse que curitibano é antipático???

Adorei. Deleitem-se:
Verão senegalês da última semana pôs à mostra uma marca de nascença curitibana: aqui, dia lindo não é sinônimo de dia ensolarado, com temperatura em elevação.

Tenho por princípio rejeitar todas as teorias sobre o estranho modo de vida dos curitibanos. Não passam de teses preconceituosas, sem base antropológica e empiricamente não comprováveis. Basta, por exemplo, nos reservar 15 minutos de atenção para destruir a crença de que não damos trela a estranhos. Quanto ao constante rabo de olho durante a conversa deixe quieto: trata-se de um inofensivo reflexo condicionado herdado dos antepassados ou resultado de algum vento que bateu nas costas.

Indignado com a facilidade com que os forasteiros nos chamam de desconfiados e fechados, cheguei a convocar uma amiga, amabilíssima, a iniciar uma cruzada pela redenção moral da gente daqui. Fundaremos uma confraria. Ela, sorridente, falante, sempre de portas abertas, dona de uma voz maviosa um verdadeiro canto da gralha-azul será o símbolo da nossa civilidade. Graças ao nosso grupo, há de vingar em todo o território nacional a expressão simpático como um curitibano.

Tenho cá para mim que o sotaque é o culpado de nos acharem pouco dados. Nossa fala, que dó, não tem a doçura mineira, a brejeirice paulista, a fluência carioca, o encanto pernambucano. Nossos mês ditos com ênfase operístico podem desafinar e ter o efeito de um pé de ouvido. Mesmo assim, há dicções autóctones agradabilíssimas, como a da jornalista Valéria Prochmann e do livreiro Aramis Chaim. Adoro ouvi-los falar.
Dias desses, dois garçons um gaúcho e outro cearense me confidenciaram ter a impressão de que os fregueses estão brigando com eles: EscuTE, moço, me traga o cardápio. Agora... De fato, parece um pito. De fato, as­­susta. Um dos garotos jurou estar de malas prontas. Contei-lhe um ocorrido.
Reza a lenda que Miguel Fa­­labella criou a personagem Bozena depois de, em visita à capital, dar autógrafo a uma rotunda e severa "RUTE que se apresentou como se batesse continência ao Füher. Depois do susto, o ator se esbaldou no riso e deu o troco. É o que todos deveriam fazer. Disse isso ao garçom. É o nosso jeitinho... Daqui a três anos você não vai querer morar em outro lugar.
Em Curitiba, defendo, não se deve ter pressa para travar relações sociais. As amizades custam, mas são para sempre. É preciso entender nossa parcimônia em escancarar os braços e o sofá da sala. Tudo aqui era mata fechada de pinheiros, lugar de passagem de tropeiros muitos de maus-bofes. Vai saber quem é quem. Além do mais, tinha muito rio raso e feio, índios canibais e temperaturas polares. Mexe com o humor, né, por uns quatro séculos, como se vê.
A escuridão e o frio macularam nossa alma. Mas somos gente. Sabemos tudo sobre a vida do vizinho, mesmo falando muito pouco com ele. É praticamente um modelo de gestão. Por isso digo e repito: forasteiro, não desanime. Procure um curitibano para chamar de seu. Ele existe e põe a mesa do café da tarde esperando por você. Diante do chineque fresco, há de contar como o nonno e a baba desbravaram o Orleans e do seu sonho de Santa Felicidade. Falará os podres de uma família inteira que não aquela em que nasceu e o que pensa do metrô. Somos todos historiadores e urbanistas natos. Somos irresistíveis.
Em tempo, temos uma marca de nascença: o horror aos chamados dias lindos. Que é isso, companheiro? O pessoal da meteorologia chama manhã ensolarada e com elevação da temperatura de tempo bom. Só se for para a fuça deles. Dias felizes são cobertos de nuvens, com chuviscos depois do meio-dia, seguidos de frente fria da Argentina e súbita queda da temperatura no início da noite.
Aqui é assim, nego: o povo só se sente bem quando a luz é prateada. Não nos leve a mal: nossa fala é seca como o cinza da paisagem que nos aninha. Se o céu hoje ficar nublado, bom dia!
E bom carnaval, seja lá o que isso for.

3 comentários:

  1. Ótimos, e curitibano não é antipático, só é formal...

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  2. Oi Perséfone... Obrigada pelo comentário... e concordo contigo, afinal, sou curitibana até a alma, hehe! Beijão

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  3. Oi Melissa!
    Obrigada pelo comentário. Foi a melhor opção mesmo para nós.
    Beijos

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